Outro dia, conversando com uma amiga, ouvi dela a pergunta mais importante para quem quer emagrecer: “qual alimento eu não posso comer em hipótese alguma?” Essa é a armadilha que criamos. Adotar o pensamento binário, sim ou não, cria em nossas mentes um padrão de permitido e proibido, certo e errado. Aqui um conceito importante: não existe alimento saudável, existe alimentação saudável. E nessa alimentação saudável, cabem todos os alimentos.
Quando tentamos banir alimentos que julgamos serem os vilões da dieta saudável, criamos ao mesmo tempo um desejo, por vezes incontrolável, de ingeri-los. Os mecanismos desse comportamento ficaram ainda mais evidente nesse período que estamos vivendo de distanciamento social. Aqueles alimentos saborosos e até então proibidos, surgiram como o prêmio de estarmos com nossas vidas alteradas a despeito de nossos anseios. O prêmio entregue por um alimento hedônico recheado de sabor, figurou entre os mais eleitos para nos consolar, assim como as bebidas alcoólicas.
E aí surge o pensamento binário, que pode ser uma armadilha para o emagrecimento. Pensar em alimentos proibidos e permitidos gera culpa e sensação de fracasso quando cedemos para o alimento “proibido”. Mudar o adjetivo deste alimento, pode ser a saída que temos para esse comportamento. O alimento é permitido, a pergunta é: você quer? Então não falaremos mais de alimentos proibidos ou alimentos permitidos e sim em alimentos desejados ou não desejados. Ao se permitir consumir um alimento, você está no controle da ingestão, é sua escolha e é sua responsabilidade. Assim o ônus e o bônus dessa escolha são seus. Ao considerar o alimento proibido, seu prazer será apresentado pelo pedaço desse suculento alimento e, na sequência, a culpa, que será sobreposta por outro pedaço e assim sucessivamente até que o maior prêmio dessa sessão chegue: o fim daquele alimento. Pode parecer engraçada essa colocação, porém temos um enorme prazer ao terminar uma tarefa, ou seja, “ticar” acabou a tentação.
Já a permissão do alimento figura como escolha, opção e desejo. O sabor de cada mordida é ritualizado e sentido, figurando como prazer da escolha, sem a necessidade do prêmio de ver o fim do alimento. Sem culpa nos permitimos saborear, comer devagar e curtir o prazer, e assim, muitas vezes nos satisfazemos com menos.
Mudar o pensamento das nossas mentes representa a grande estratégia para encontrar o caminho definitivo para o emagrecimento. Quando algum alimento figurar na sua mente como proibido, pense: “poder eu posso, mas eu quero comer?” Se sim, se permita. Coloque-o em um momento especial da sua semana como se fosse uma ilha no meio de uma travessia pelo oceano. Ritualize, não coma de forma automatizada. As ilhas são estratégias programadas para que seu caminho ao emagrecimento seja prazeroso e não apenas o destino dessa viagem. Aproveite os sabores do caminho do emagrecimento e não apenas o destino.
Antonio Herbert Lancha Jr – Vítria Seguros
Bacharel em Ed. Física – USP
Mestrado e Doutorado em Nutrição – USP
Pós- doutorado em Medicina Interna – Washington University