Cabeça de gordo: existe??


Na semana passada, quando eu voltava da USP para casa de metrô, ouvi duas amigas conversando. Uma delas disse: “Ah eu tenho cabeça de gorda, acabo de comer e já estou pensando na próxima refeição”.

Percebi que o assunto entre elas girava em torno de comida e situações futuras como a resposta que daria à mãe que brigou com ela, ou o que diria ao chefe no dia seguinte sobre uma questão de  trabalho. Aqui, começamos a entender como todos nós confundimos nossas sensações.  A região neurológica que identifica a necessidade de ingerir alimentos é muito próxima da região neurológica que identifica a ansiedade.  Assim, é fácil interpretar a ansiedade como fome e vice versa. As amigas estavam falando de coisas futuras, que ainda não haviam acontecido.

Para entender melhor, a  ansiedade apareceu em nossas vidas quando deixamos de buscar o alimento que ingeriríamos naquele dia. Essa época data do domínio do fogo pelo homem, quando então ele conseguia se proteger dos animais maiores que poderiam caçá-lo e produzir de forma mais organizada seus alimentos. Surgiu então o agricultor.

A mudança de vida que tivemos nessa época quando experimentávamos a impermanência da vida nômade, comendo o que aparecia e vivendo o dia para a plantação e criação dos animais em cativeiro fez nascer em nós a sensação de viver no futuro. Claro que ninguém consegue esse fato, porém essa tentativa humana constante gera em nós a ansiedade, confundida com fome.

Voltando para minhas colegas do metrô, a tal cabeça de gordo que elas relataram, nada mais é que a mente humana, que adora vagar por hipóteses futuras como nossos ancestrais agricultores  que se preocupavam com os animais que os poderiam atacar, a chuva que poderia não vir ou vir demais e etc. Então não é cabeça de gordo e sim mente humana moderna que vive a ansiedade do momento futuro.

Podemos treinar nossa mente (isso mesmo treinar como um jogador de futebol treina bater falta, repetindo, repetindo, repetindo…) a se concentrar no momento presente. Darei algumas dicas:

  • Faça as compras dos alimentos que irá ingerir no jantar, por exemplo, próximo do jantar. Assim você pode escolher alimentos mais frescos e pensar na hora o cardápio do dia.
  • Se a opção for comer em algum restaurante, experimente um lugar diferente, evite a monotonia e as mesmas refeições. Com frequência nos mantemos presos a lugares e alimentos que conhecemos, isso faz nosso paladar perder a oportunidade de conhecer nossos sabores e aromas.
  • Arrisque-se na cozinha, tente preparar algo diferente, misture temperos e ingredientes.  Gastar tempo na preparação do alimento, acentua nossas percepções olfativas e de paladar, intimamente ligados a sensação de saciedade.
  • Quando perceber sua mente vagando para o futuro, gentilmente traga ela para o momento presente. Lembre-se, o que a mente humana gosta é de tentar viver o futuro, que não é possível.

 

Por Antônio Herbert Lancha Jr 

Bacharel em Ed. Física – USP
Mestrado e Doutorado em Nutrição – USP
Pós- doutorado em Medicina Interna – Washington University

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