Dieta ou exercício: o que é mais importante depois dos 60?


Me lembro há alguns anos um amigo me perguntou se em meus estudos e congressos eu poderia lhe aconselhar o que fazer para envelhecer bem. Pergunta desafiadora, e me colocava a prova perante um fato inexorável, o envelhecimento. Esse presente que ganhamos ao nascer apresenta seus sinais em nossas habilidades motoras como o levantar e andar que tanto alegra os pais de uma criança nos seus 12 meses e ao mesmo tempo limita o idoso. Fato semelhante ocorre na alimentação, quando lá pelos sete meses, o peito materno é substituído pela alimentação familiar e o “não gostar daquilo que não conhece” faz os pais oferecerem um alimento pelo menos 10 vezes até ele ser testado pela criança. O idoso por sua vez torna sua alimentação obtusa quer seja por limitações como a perda dos dentes, quer seja por adquirir na velhice toda a liberdade poética para dizer: “não gosto” sem um “superior” para ter que dar satisfação.

O que assistimos aqui é um modo assemelhado do recém-nascido ao idoso. Sabendo disso, quais seriam as estratégias para nos permitir envelhecer e preservar nossa autonomia?

Vamos pensar em nossas habilidades motoras se escondendo ao longo dos anos onde não mais parecem ser como eram antes. Joguei futebol por muitos anos de forma competitiva. Quando parei não mais ousava “brincar” de jogar futebol, pois aquilo foi muito sério em um momento da minha vida. Já passados os quarenta anos, estava passando um final de semana na fazenda de um amigo. Os garotos estavam jogando bola, quando um dos goleiros se machucou. Eles sabiam que eu tinha um passado de goleiro, quase profissional. Não tardou e a convocação apareceu: ….”pega no gol pra nós TIO”. Confesso que a palavra final me incomodou. Mas fui lá. Entre uma defesa e uma falha o jogo acabou. No dia seguinte, não conseguia levantar os braços. Mas espera um pouco, eu treino, levanto pesos, corro, que dor é essa? É a dor dos anos sem jogar no gol.

Na alimentação não muda muito. Se deixarmos de comer de forma variada, teremos o mesmo problema. Reduzindo a capacidade de digeri-los, perderemos o paladar e não sentiremos o mesmo prazer. Um historia semelhante aconteceu comigo. Em abril de 2016 fui convidado por amigos para dar uma aula na Universidade Federal do Piaui, em Terezina. Esses amigos que gentilmente me convidaram me levaram para saborear carne seca, macaxeira e outros pratos maravilhosos regionais.  Lembro-me até hoje daquele sabor maravilhoso. Nos dias que se seguiram, o prazer foi substituído por uma digestão confusa e lenta. Por que eu senti isso então: foram os anos sem comer carne de sol.

Colocando em perspectiva essa história, como alinharmos um projeto para os sessenta anos lutando contra o processo de envelhecimento:

  1. evite a monotonia alimentar, varie os pratos e temperos. Já percebeu que algumas pessoas vão sempre ao mesmo restaurante e pedem sempre o mesmo prato? dica prática: experimente um prato diferente por semana.
  2. os principais aliados do envelhecimento são as variedades de frutas e alguns autores colocam os leites fermentados, coalhadas e iogurtes como protetores da saúde intestinal. Dica prática: experimente adicionar esses alimentos no seu dia a dia.
  3. o corpo é uma maquina incrível, assim desafie-o a fazer atividades que envolvam raciocínio e não apenas atividades mecânicas. Dica: experimente lutas, tênis, squash, dança e etc.
  4. tanto a atividade aeróbia como os exercícios de força são importantes no envelhecimento, não escolha um em detrimento do outro. Dica prática: alterne os treinos em aeróbios e exercícios de força. E lembre-se, você não tem que ganhar de ninguém a não ser de você mesmo de ontem e perder para você mesmo de amanhã.
  5. sempre que possível, combine os programas alimentares com a atividade física. Programe conhecer uma cidade caminhando e saboreando seus pratos. Para os mais treinados, planeje uma corrida de rua em locais diferentes. Você conhecerá outro lugar, outra cultura e outros sabores.
  6. por último, deixo aqui uma palavra que considero um mantra. Ikigai –  da ilha de Okinawa no Japão. De forma bem simples ela significa propósito. Aquilo que te faz acordar toda manhã.  No livro O Fim das Dietas digo isso: lembre-se da fala da aeromoça.  Em caso de despressurização da cabine, máscaras iguais a essa cairão automaticamente. Coloque primeiro em você e depois auxilie quem estiver ao seu lado, mesmo sendo seu filho.

Seja você seu próprio Ikigai.

 

Por Antonio Herbert Lancha Jr 

Bacharel em Ed. Física – USP
Mestrado e Doutorado em Nutrição – USP
Pós- doutorado em Medicina Interna – Washington University

 


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